Coelho 'a meio caminho' da candidatura a Belém
José Manuel Coelho formalizou ontem em Lisboa, mesmo ao cair do pano, aquela que é a primeira candidatura madeirense à Presidência da República. Mais discreto que o habitual, o dirigente da Nova Democracia não esperava que fosse tão difícil. "Isto está feito para que só os grandes partidos, que têm uma grande máquina por trás, consigam cumprir requisitos", denunciou ontem ao DIÁRIO em Lisboa.
Apesar de tudo, o deputado do PND está convencido de que conseguiu cumprir o desafio a que se propôs. "Foi uma grande luta, muito trabalho, mas estamos aqui com 7700 assinaturas e ainda temos aqui umas de reserva caso seja preciso", disse.
O Tribunal Constitucional confirmou a entrega. Ao todo foram recebidas sete candidaturas. Cavaco Silva, Manuel Alegre, Fernando Nobre, Francisco Lopes, Luís Botelho Ribeiro, Defensor Moura e José Manuel Coelho. Os técnicos do palácio Ratton têm agora até 29 de Dezembro para se pronunciarem sobre a conformidade das candidaturas, havendo ainda a hipótese de apresentação de recurso até três de Janeiro.
Coelho apresenta queixa à CNE
Entretanto, o madeirense já está em campanha e ressalvou que valeu a pena o esforço e o trabalho árduo. O responsável disse que esta foi "a segunda grande derrota de Jardim depois da vaia monumental nos barreiros quando quis unir os três clubes". "O PSD não acreditava que tivéssemos capacidade de recolher assinaturas de tanta gente", regozijou-se. "Os pedidos de certidão de assinatura começaram a chegar a conta-gotas às juntas de freguesia e não levaram a sério", afirmou. E prosseguiu: "Quando perceberam iniciaram desesperadamente uma campanha para calar os madeirenses, mas já era tarde".
José Manuel Coelho lamentou, contudo, a perseguição política que já se está a fazer a pessoas afectas ao PSD, que participaram na sua propositura. "É inadmissível que as Juntas de Freguesia, com aquela fidelidade canina à Quinta Vigia, tenham cedido documentos confidenciais à imprensa, denunciando quem subscreveu a minha candidatura", acusou. O candidato prometeu apresentar queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE), a propósito dos casos da professora Zita Cardoso, presidente da Junta da Associação de Comércio e Indústria de Machico e de Luís Ferreira, ex-presidente da Junta de São Gonçalo, cujo 'apoio' a Coelho foi denunciado n o Jornal da Madeira. "Isto é uma caça às bruxas do tipo que se fazia na Rússia no tempo de Estaline", acusou.
Em Lisboa sem teatro
José Manuel Coelho tem um objectivo claro e garante que a sua candidatura "não é de fantochada". No continente não haverá "teatro de rua". "Na Madeira usamos a sátira para caricaturar a falsa ideia de que existe democracia", afirmou. "É como fazem os professores da pré-primária, primeiro fazem um teatro de marionetes para captar a atenção dos meninos", justificou.
"Aqui as instituições do Estado funcionam, não precisamos ridicularizar", adiantou ainda. E, já em pose de campanha atirou: "Ao votarem na minha candidatura, os portugueses ajudam a restaurar a democracia da Madeira", que é um enclave dominada por um tiranete". A luta por um país moderno, sem corrupção, vem logo a seguir na lista de prioridades do candidato.
À porta do Tribunal Constitucional, José Manuel Coelho, Gil Canha e Baltasar Aguiar suspiravam ontem de alívio. Num troley levavam as assinaturas de reserva. "Isto não é para qualquer um", atirava Aguiar. "Só para loucos como nós", respondia Canha. Mas ainda agora começou a primeira aventura presidencial madeirense.
O pintor que até tem cultura acima da média
José Manuel da Mata Vieira Coelho nasceu em Santa Cruz em 22 de Julho de 1952 (58 anos). Casado, tem duas filhas. A profissão que faz questão de anunciar (pintor de construção) pode suscitar equívocos e levar a que se menospreze os seus conhecimentos políticos, económicos e culturais. É que se só completou o 12.º ano de escolaridade (ainda frequentou uma licenciatura em Física), José Manuel Coelho é um cidadão que revela uma cultura acima da média, capaz de surpreender os seus interlocutores. Esse aspecto foi realçado pelo Representante da República, Monteiro Diniz, após uma audiência com o deputado do PND. Na Assembleia regional, o agora candidato a Presidente da República tem-se destacado com acções que têm tanto de aparatoso quanto de polémico. Para protestar contra o tempo de intervenção limitado concedido aos deputados da oposição, chegou ao plenário com um relógio de cozinha pendurado ao pescoço. Associou uma bandeira nazi ao regime jardinista por este não comemorar o 25 de Abril. Ousadia que agora pode levar para outros palcos políticos.
(Com a devida vénia ao Diário de Notícias - Madeira)
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