quinta-feira, janeiro 08, 2009

Entrevista com José Manuel Coelho












Depois destes meses na Assembleia quais são os seus planos imediatos?Vou voltar à minha actividade profissional normal, porque a actividade política não é uma profissão, pelo menos para mim. Sou trabalhador da construção civil e neste momento estou inscrito no Serviço Regional de Emprego. Vou esperar que surja algum trabalho. Passa de deputado a desempregado?Já estava desempregado antes.Que balanço faz deste período em que esteve na Assembleia?Foi uma experiência enriquecedora, tive oportunidade de trabalhar e ajudar o companheiro Baltazar Aguiar e o PND e, sobretudo, alertar as consciências dos madeirenses para a situação insólita que é haver uma porção do território nacional onde o mesmo partido já manda há 30 anos. É uma situação que produz todos estes interesses instalados e uma oligarquia económica. Foram essas as situações que procurou denunciar?Tive oportunidade de pôr a nu situações muito graves como o porto, que coloca em xeque toda a economia da Região.Outros dos seus alvos preferidos foram Jaime Ramos e Jaime Filipe Ramos. Não foram os únicos, mas eles representam a oligarquia do regime jardinista. É uma cópia menor do que se passa em Angola, onde o José Eduardo dos Santos tem aqueles milhões do petróleo e depois a filha, a família e o Estado-maior dominam tudo. Em Angola administram-se biliões de dólares, aqui são milhões de euros. O combate contra Jaime Ramos é simbólico, não é pessoal, mas contra aquilo que ele representa. O seu comportamento na Assembleia, nomeadamente a exibição de uma bandeira nazi, originou muita polémica. Voltava a fazer o mesmo? Sim, sem dúvida. O que acontece é que a nossa política doméstica não tem qualquer repercussão no continente. O que fazemos aqui não tem grande relevância, a não ser uma 'boca' mais grave do dr. Alberto João contra a República. Os jornais nacionais alheiam-se completamente e é como se isto não existisse. Nós temos uma situação anti-democrática que é ter uma Assembleia que não funciona para os fins que foi criada, que era fiscalizar o Governo, como acontece em todos os parlamentos burgueses. É um avanço das democracias burguesas, mas que aqui não acontece. Só através de uma acção bastante espectacular é que se poderia chamar a atenção do país e foi isso que procurámos fazer. Depois da sua suspensão, garantiu que não iria processar o presidente da Assembleia, no entanto o PND foi queixar-se à Procuradoria-Geral da República. Por mim, não haveria queixa nenhuma, mas a direcção do partido em que estou integrado decidiu que devia processar, para fazer cair o senhor presidente da Assembleia Legislativa. Ele não assume os seus poderes, é uma figura decorativa e não tem condições para estar ali. É curioso que quando eu fazia aquelas sátiras ele advertia-me, mas quando era o Jaime Ramos já não dizia nada. É preciso ver que ele deveria ser a primeira figura da Região, mas está subserviente ao senhor Jaime Ramos. O chefe do grupo parlamentar do PSD manda mais do que o presidente da Assembleia. Se ele caísse, penso que era bom para a democracia da Madeira. O modelo de actuação do PND resultou?Eu acho que sim, porque veio alertar as consciências, porque as pessoas só sabem o que diz a propaganda do Governo.Teve reacções positivas? Sim, senti isso. Muita gente teve outra consciência do que era a Assembleia, um organismo de poder regional que praticamente não funciona, que é decorativo e custa imenso dinheiro ao contribuinte. Uma consequência da sua passagem pela Assembleia foram várias ameaças de processos judiciais. Agora que deixa de ser deputado teme ser processado? É possível que avancem com processos mas eu já estou habituado. Eu não temo os processos em tribunal, porque sigo o que dizia São Paulo: 'que nenhum de vós padeça como ladrão ou malfeitor, mas se forem perseguidos em nome de Cristo considerem-se bem-aventurados'. Fazendo uma analogia, se eu for a tribunal acusado de roubar ou vender droga, é coisa para me envergonhar, mas por delitos políticos até é uma honra. Mas admite que isso possa vir a acontecer?Sim e por isso é que já estou precavido. Não tenho bens em meu nome, nem conta no banco. Podem é mandar-me fazer trabalho comunitário, ou então vou preso e eles vão ter que me dar de comer. Essa sua acção também tem efeitos eleitorais? Tenho a certeza que vamos subir nas próximas eleições, não sabemos quanto, mas vamos subir. Começámos por ser um partido desconhecido, com a brincadeira do Bexiga e até nem acreditávamos muito na eleição de um deputado, mas gora é fácil, até há a possibilidade de elegermos vereadores às câmaras. Nas autárquicas vai concorrer por Câmara de Lobos para, como disse, ajudar o PS-M. Isso não é prejudicial para os socialistas? Não é, porque a nossa campanha visa o esclarecimento dos cidadãos de Câmara de Lobos. O PS enfrenta uma situação grave de dissidências internas, como foram os casos de João Isidoro e Ismael Fernandes que saíram zangados com o partido. Segundo o PS, quiseram ver-se livres deles, da dra. Rita Pestana e do dr. Fernão Freitas, porque eram submarinos jardinistas. Não sei se era assim, mas o que acontece é que Isidoro e Ismael estão a combater o antigo partido. Acho isso mal, porque eu saí do PCP - não saí, eles deitaram-me fora... -, mas não estou a combatê-los. Se queremos uma alternativa democrática temos que viabilizar mudanças. A solução é apoiar o PS em Câmara de Lobos? Penso que podemos conseguir um vereador em Câmara de Lobos mas, se não conseguirmos, vamos fazer com que mais pessoas votem no PS e que não caiam na conversa do senhor João Isidoro Gonçalves (MPT).É um ex-comunista e diz que o PCP ainda é o seu partido. Como se sente integrado num partido de direita? Sempre fui e sou comunista. Este é um partido de direita, mas daquela direita que é hostil ao poder, porque a direita do poder, a do grande capital financeiro, está personificada no PSD e no PS. Ao estar neste grupo do PND estou a aproveitar uma oportunidade para ajudar a democracia. O nosso PND, aqui na Madeira, tem características muito diferentes daquelas que tem no continente. Nós somos um grupo heterogéneo de pessoas que não têm grandes conotações políticas. Só o companheiro Baltazar Aguiar é que pode ser de direita, mas ele já está mudando (risos). Como foi o relacionamento pessoal com os outros deputados, ao longo destes meses? Tenho boas relações com todos, menos com os grandes caciques do regime, porque eles não querem, ficam cheios de ódio. Para esses, encontrar-me é como ver Satanás. Polémico Relógio e bandeira marcaramJosé Manuel Coelho tem 56 anos, é pintor de construção civil e tem o 12º ano de escolaridade. O seu percurso político começou no Partido Comunista Português, de onde saiu por divergências com a direcção regional. No entanto, como faz questão de afirmar, continua a ser comunista e ainda chama ao PCP o 'seu' partido. Nos últimos meses foi o representante do Partido da Nova Democracia na Assembleia e um dos principais protagonitas, dentro e fora do parlamento. Começou por apresentar-se no plenário com um relógio de cozinha ao pescoço, para protestar contra a redução dos tempos de intervenção da oposição. Depois, protagonizou um dos episódios mais polémicos, ao exibir uma bandeira nazi no parlamento, que tentou entregar ao líder da bancada do PSD. A maioria exigiu a sua suspensão que acabaria por ser considerada ilegal.

(Com a devida vénia ao Diário de Notícias - Madeira)

2 comentários:

The Melg@ disse...

Grande José Manuel Coelho!!! Não te vás embora! Fazes falta para combater esse gajo PPD da Madeira! Disseste as verdades todas a essa corja de nazis! Bem-Hajas!

PPN disse...

Sendo 2009 um ano de eleições o Ponta do Pargo News (Um blog da freguesia da Ponta do Pargo-Calheta) pretende acompanhar a Campanha Eleitoral e pré-campanha dos diversos partidos políticos na Ponta do Pargo. Para tal pedimos que V. Exa. nos envie se possível o plano actividades de campanha para a freguesia da Ponta do Pargo.

Cumprimentos,

Ponta do Pargo News

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