sexta-feira, janeiro 11, 2013

Forças Armadas negam comunicado



Documento divulgado na RTP, JM e 'Cidade' prometia queixa ao PND. É falso.


O 'comunicado' do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) a repudiar a sátira feita pelo PND à condecoração do presidente do Governo Regional com a medalha militar da Cruz de São Jorge não é da autoria das chefias militares. A confirmação foi feita ontem ao DIÁRIO pelo gabinete de relações públicas do CEMGFA, que assegurou que não se pronunciou sobre esta matéria.
O gabinete da chefia militar disse desconhecer a nota que anunciava um processo judicial contra o PND e classificava a rábula política como "uma inqualificável pantomina". O documento que, ao que o DIÁRIO apurou terá sido enviado por correio electrónico, chegou a algumas redacções insulares e foi mesmo difundido pelo Jornal da Madeira (JM), RTP e Diário Cidade. O JM terá mesmo divulgado o alegado comunicado dos militares na íntegra. O documento, cuja autoria é desconhecida, considerava que a acção política do PND ridicularizou e difamou as Forças Armadas  "de uma forma completamente insultuosa e intolerável, com o intuito de afectar a coesão, o prestígio". "A nossa instituição militar expressa, inequivocamente, um veemente repúdio contra o aproveitamento político levado a cabo por esse partido, a propósito da agraciação de sua excelência o Senhor Presidente do Governo Regional da Madeira, Dr. Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim, com a medalha militar da Cruz de São Jorge", prosseguia o documento, prometendo ainda "recorrer a instâncias judiciais da República, com o objectivo de repor o bom-nome e o prestígio das nossas Forças Armadas".
Nem de Lisboa, nem da Madeira
O DIÁRIO tentou obter o documento junto do CEMGFA em Lisboa -  uma vez que não o recebeu - que negou a existência de tal comunicado. "Não existe nada e não sabemos de onde apareceu essa informação", disse fonte do gabinete, que estava ontem a tentar perceber o sucedido. "Sugiro que pergunte a quem deu a notícia", defendeu-se o gabinete. Questionado sobre se estava previsto algum inquérito interno a esta questão, o CEMGFA negou uma vez mais, remetendo a responsabilidade para os órgãos de comunicação envolvidos. O comando da Zona Militar da Madeira também negou a autoria do escrito.

Em causa está a agraciação  de Jardim na passada segunda-feira, na Madeira, pelo chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, general Esteves de Araújo, que, na cerimónia,  não poupou elogios ao presidente do Governo Regional, por quem nutre "respeito e admiração" e a quem enalteceu o "carisma", "patriotismo" e "pragmatismo". No dia seguinte, o PND foi ao palácio de São Lourenço criticar a homenagem - através de uma rábula com um militar com cabeça de porco - e lembrar que há 30 anos Jardim disse que os militares estavam  ficar efeminados. E era a isto que o CEMFGA teria alegadamente reagido. Mas o comunicado, assumiu ontem a chefia militar, é falso.
Semelhanças o caso do falso homem da ONU
O comunicado do CEMGFA traz à memória o recente caso do falso colaborador das Nações Unidas e do Banco Mundial, que fez as capas de vários jornais por ter mentido acerca do seu currículo. Artur Baptista da Silva andou a divulgar um relatório sobre Portugal, deu entrevistas e conferências, onde se apresentava como colaborador da ONU e professor numa Universidade americana que não existe, apesar de ninguém o conhecer na organização. Chegou mesmo a ser apresentado assim nos programas onde participou, como o 'Expresso da Meia Noite', da SIC Notícias, mas a sua identidade acabaria por ser desvendada, revelando um histórico de processos por burla e abuso de confiança, que o levaram mesmo a ter cumprido pena de prisão.

(Com a devida vénia ao Diário de Notícias - Madeira)

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