terça-feira, fevereiro 01, 2011

Líder do PND revela tentativa de aliciamento ocorrida já após as eleições.


Tendo em conta os resultados eleitorais do último domingo, como vai ser o relacionamento do PND com os restantes partidos da oposição em torno da ideia de uma 'plataforma cívica'?
Há partidos da oposição dos quais nós esperamos muito pouco e com os quais não vale a pena perder tempo. Refiro-me ao CDS e ao PCP. O CDS é uma bengala do PSD e que tem sido conivente com a orientação de regime que tem sido dada nesta terra. O líder do CDS nunca disse que é preciso fechar o 'Jornal da Madeira'. O PCP é a outra face do regime, a oposição conveniente ao dr. Alberto João Jardim. Aliás, é sintomática a posição que estes dois partidos tomaram num momento de particular crise parlamentar, ambos abstiveram-se das decisões de expulsão do senhor Coelho e da suspensão do parlamento.

Para o entendimento restam MPT, PS e Bloco de Esquerda.
O MPT não sei se é partido na Madeira, porque nasceu como um apêndice do regime. Restam Bloco e PS. Quero dizer aqui que tenho um enorme respeito por um e por outro partido.
Mas veja que José Manuel Coelho disse que ia extinguir o BE. O senhor Coelho fez essas declarações numa manifestação 'a quente', acossado por um conjunto de interpelações de pessoas presentes e com informações talvez não correctas sobre questões que andavam nos blogues. O senhor Coelho tem direito à sua opinião, mas a minha opinião é de um enorme respeito pelo BE, pelos seus actuais e passados líderes, pessoas que de uma forma desinteressada, sem nenhuma conivência com o regime, fizeram oposição frontal ao dr. Alberto João Jardim. Depois há o PS, que é um partido que considero ser do arco dos partidos da oposição nos quais existe uma vontade de mudança.

Há possibilidade de fazer uma coligação eleitoral com esses dois partidos?
Há. Há no PS um conjunto muito grande de pessoas que honesta e seriamente querem construir uma alternativa de sistema e de governo na Madeira.

Não é isso que Jacinto Serrão está a pretender fazer com a 'plataforma democrática'?
Uma coisa é o PS e outra coisa é a direcção do PS. Eu fui o último a ser convidado para umas reuniões com o líder do PS para integrar uma plataforma que já tinha sido pré-anunciada. Aquilo que eu lhe disse na altura era que aceitava uma plataforma no pressuposto de que esta fosse uma salvação para a Região e não uma bóia de salvação para lideranças fracas, líderes e projectos de facção falhados.
Disse que não gostava da cultura de facção do PS, permitindo que um deputado legitimamente eleito tivesse estado afastado do parlamento como foi o caso de Victor Freitas. Ao longo de todos estes meses tenho tentado contactar o líder Jacinto Serrão e a verdade é que este não responde aos meus telefonemas.

Jacinto Serrão acabou de lhe estender a mão, no dia seguinte ao das eleições.

Mais uma vez foi através da comunicação social! Tem piada, querem fazer uma plataforma que não parte de um entendimento de pessoas bem intencionadas e sérias mas sim de um espectáculo público. Isto é começar pelo telhado e não pelas bases. Mais, quando ele [Jacinto Serrão] regressou à vida política e tomou conta do PS cometeu um erro muito grave, que foi o de ter pedido e realizado um encontro secreto com o senhor presidente do Governo Regional. Não lhe ficou bem, tal como ter feito acordos com o PSD para ser nomeado vice-presidente do parlamento.

Então com esta direcção do PS está muito difícil um entendimento?
Não, eu quero e vou dar o benefício da dúvida ao PS, apesar de saber, por exemplo, que importantes dirigentes do PS, neste caso o dr. Bernardo Trindade, influenciou no sentido da designação de um seu amigo para a direcção e administração da RTP [na Madeira]. Toda a gente também sabe que por acção de elementos do PS regional que estão no continente se aprovou uma Lei de Meios na qual não há nenhum controlo nas despesas. O que corre aí é que esta Lei de Meios foi aprovada em negociações entre o dr. Bernardo Trindade e o senhor Jaime Filipe Ramos. O PS tem que começar a reflectir e estes resultados [das presidenciais] também dizem que o eleitorado não quer este PS.

Ficou surpreendido com a votação em José Manuel Coelho?
Não fiquei surpreendido, porque confirmou um conjunto de impressões que tinha retirado do contacto com o eleitorado. Naturalmente que para nós termos a responsabilidade de 46 mil votos é uma novidade.
São votos de José Manuel Coelho. São votos do senhor José Manuel Coelho mas são também votos de uma equipa, porque toda a campanha foi decidida no âmbito de uma equipa.

O que tem a dizer quando dizem que o PND fica agora refém de José Manuel Coelho?
Se ficarmos reféns do senhor José Manuel Coelho, ainda bem, porque estamos entregues a uma pessoa de bem.

Ele não ganhou poder de decisão no interior do PND?
O problema é que os senhores nem sabem o poder que o senhor José Manuel Coelho tem dentro do partido. Ele sempre teve um poder muito grande.

Não era uma marioneta como chegou a ser descrito?
Essa era a propaganda que era espalhada cá fora, de que o senhor José Manuel Coelho era uma espécie de autómato controlado à distância. Mas os senhores jornalistas viram a actuação dele no parlamento. Sabem que não era autómato de ninguém e sabem que dentro do Partido ele tem um poder e uma influência, sobretudo persuasivo e de enriquecimento do debate. Tem até uma capacidade de incentivação e de liderança que é rara.

Há 4 anos, quem liderou a lista do PND foi o dr. Baltasar Aguiar. Neste momento, não lhe parece inevitável que quem assuma esse lugar seja José Manuel Coelho?
É muito provável que isso venha a acontecer.

E se houver legislativas nacionais?
O senhor José Manuel Coelho já manifestou publicamente vontade de se candidatar a essas eleições. É muito provável que seja o candidato pelo PND. Poderá ser. Agora não é candidato a tudo e o PND tem muitos e bons quadros para designar candidatos a quaisquer eleições.

Já estão a preparar listas?
Não somos um partido que se movimente em função das listas e não as estamos a preparar. O que nós estamos é a preparar o PND para ser um grande partido do eleitorado. Para isso temos de ter bons quadros, pessoas capazes, sérias e que ponham o interesse regional e o interesse público à frente dos seus interesses pessoais.

Será que poderemos ter a surpresa de vermos quadros de outros partidos a se aliarem ao projecto do PND?
Não será muito provável, porque nós não vamos fazer o que outros têm feito com o PND e designadamente com o senhor Coelho. Vou-lhe revelar uma coisa. Já mesmo depois destas eleições, um alto responsável nacional de um grande partido procurou contactar o senhor Coelho para o cativar para um projecto do seu partido. Claro que o senhor Coelho riu-se dele e virou-lhe as costas.

Esse alto quadro é do PS?
Eu fico por aqui. Há coisas que eu não devo adiantar.

(Com a devida vénia ao Diário de Notícias - Madeira)

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