José Manuel Coelho. Ao mostrar a bandeira nazi que queria oferecer ao líder do PSD/Madeira, o deputado do PND conseguiu um impacto maior do que aquele que já obtivera quando se apresentou na Assembleia Legislativa com um relógio de parede ao peito, para contestar o pouco tempo dado à oposição Evoca as acções de Henrique Galvão e Palma Inácio O adventista do Sétimo Dia que se tornou comunista quando cumpriu o serviço militar em Lisboa e Angola, nos anos de 1974/75, cita Os Lusíadas para dizer que o episódio do relógio de parede foi uma hipérbole e o da bandeira nazi um metáfora. O deputado do PND na Assembleia Legislativa da Madeira filiou-se no PCP em 1977 e, apesar de ter sido "posto na prateleira" e, depois, afastado (o que explica pelas críticas que fez ao seu camarada que era o presidente do Sindicato da Construção Civil na Madeira), ainda fala das "obras do partido" quando explica que gosta de ler, a par da "imprensa burguesa", os livros de Lenine ou A Mãe, de Máximo Gorki.Aos 56 anos, o operário da construção civil da freguesia de Santa Cruz que se matriculou no curso de Física da Universidade da Madeira (mas que abandonou porque "era muito complicado para quem tinha de trabalhar") tem um longo currículo de colaboração política. Pai de duas filhas, a mais velha a estudar já Economia na Universidade de Faro, a sua acção destacou-se sobretudo no PCP, onde foi candidato nas listas da APU (designação da frente eleitoral que os comunistas lideraram entre 1979 e 1985) às assembleias de Freguesia e Municipal de Santa Cruz - e disse, no discurso em que desfraldou a bandeira, que o tentaram assassinar a tiro nessa época.A seguir, grato pelo apoio que recebeu da UDP quando tentou criar uma comissão de trabalhadores na empresa que estava a fazer as obras de ampliação do aeroporto do Funchal, foi candidato por este partido (que entretanto se dissolveu no BE) à Assembleia Regional pelo círculo de Santa Cruz. Mais tarde, também apoiou o PS em "tarefas menores", como colar cartazes e distribuir propaganda.Habituado a entregar Bíblias nos seus tempos de jovem adventista e de ajudar o pai a vender os seus poemas (sobre "triangulações amorosas de jovens" ou crimes passionais) e os romances de cordel da editorial Minerva (A Gata Borralheira ou Ali Babá, "muito populares numa época em que não havia televisão"), tornou-se facilmente um grande vendedor dos jornais Avante!, Os Democratas de Gaula e Garajau.Em 1981, quando o órgão central do PCP fez 50 anos, foi um dos 20 contemplados com viagens à URSS oferecidas pelo jornal irmão Pravda. Ainda fala com admiração do Museu Ermitage nessa "cidade das mil e uma noites dos czares", que então se chamava Leninegrado e agora retomou a designação de Sampetersburgo, onde se lhe colou à memória o cemitério onde estão os três milhões de vítimas do cerco hitleriano; da ida a Kiev, então a capital da República Socialista da Ucrânia e hoje de um estado independente da Rússia; de entrar na sala onde se reunia o Conselho de Ministros da então União Soviética e, também em Moscovo, de se impressionar com as belas estações do metro e de assistir ao Lago dos Cisnes dançado no Bolchoi.Umas rupturas políticas mais tarde e era visto a distribuir Os Democratas de Gaula, publicação clandestina de crítica ao que sempre define como "o regime jardinista". Nessa altura, foi detido e fizeram uma busca à casa dos pais, onde continua a viver, "porque pensavam que eu teria ali uma tipografia clandestina" como as do Avante! nos tempos do salazarismo.Nessa altura, despertou as atenções do grupo que editava o Garajau, o mais cáustico jornal contra o Governo Regional, e foi convidado para ser o ardina daquele periódico em torno do qual, sustenta, se criou a ideia de concorrer às eleições e, aproveitando o facto de Baltazar Aguiar ser cunhado de Manuel Monteiro, aproveitar o partido do símbolo da andorinha para um grupo (onde diz haver democratas-cristãos, sociais-democratas e um comunista que é ele) se apresentar ao eleitorado. José Manuel Coelho, que tanto cita Bertold Brecht no Parlamento Regional como António Sérgio numa conversa, até costuma dizer para os seus camaradas do PND: "Vamos reunir o Comité Central." E as acções que despertam as atenções e levaram algumas pessoas a voltar a falar no "défice democrático"? "Infelizmente, a Madeira só é conhecida pelas razões mais hilariantes", associadas a Alberto João, sublinha o deputado único do PND. Logo, "era preciso uma acção espectacular para se chamar a atenção para esta ditadura encapotada". E foi o que, concebido pelo núcleo duro do PND local, fez o deputado que é um grande admirador de Henrique Galvão, responsável pelo assalto ao paquete Santa Maria, que chamou a atenção do mundo, em 1961, para a ditadura salazarista, e de Palma Inácio, que desviou, no mesmo ano, um avião da TAP e deixou cair sobre Lisboa panfletos anti-regime.
(Com a devida vénia ao Diário de Notícias)
3 comentários:
ALRAM = RAMOS & RAMOS, SGPS
Grandes homens que preferem morrer de pé, do que se deixar cair aos pés desse regime podre.
Força Coelho e Baltasar. Podem contar com o meu apoio.
Abaixo o Jardim! Eu sempre disse que o PPD/PSD era um partido fascista. Os restos da União Nacional e da Acção Nacional Popular do Estado Novo, e agora fazem-se passar por sociais-democratas. São mesmo o cúmulo esses fascistas.
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