A austeridade do exemplo e os alfinetes...
NOTA PRÉVIA
Cada um, à sua maneira e no seu tempo, disse o que ia acontecer. Uns desde ontem, outros há vários anos. Todos acertaram, até aqueles que aplaudiam os caminhos de Portugal quando tudo eram rosas pintadas de milhões da CEE, que diariamente entravam pelas nossas fronteiras ainda que à custa da destruição da economia, ainda que com a entrada no euro a um custo superior à nossa realidade económica, ainda que tudo isso tenha contribuído para dar milhões a alguns e a penúria a muitos.
Não me espantará até se amanhã vierem pedir a redefinição das políticas da OMC (Organização Mundial do Comércio), num coro tardio de críticas à mais que desleal concorrência de países asiáticos, que semana a semana nos empurram para a pastorícia dos nossos antepassados. Mas adiante. De que vale ter razão antes de tempo, se a vista dos que mandam e votam é mais curta do que a razoabilidade exigiria? Não vale de nada, porque a ignorância não é apenas aliada da incompetência é a grande cúmplice da fraude e do erro.
O Presente austero e a importância do exemplo
1. Sempre que alguém sugere determinados cortes nas despesas do Estado eis que surgem vozes eloquentes falando de alfinetes...Dizem que esses eventuais cortes são "inofensivos" e ineficazes na contabilidade final. ENGANAM-SE. O exemplo também conta e quando os de baixo, e os do meio, vêem os de cima sem alterarem os seus padrões e comportamentos a revolta e a desconfiança surgem inevitáveis.
Falta o EXEMPLO, a ÉTICA do comportamento, a SOBRIEDADE da atitude, para podermos acreditar no que nos dizem e fazer o que nos pedem.
Há medidas que têm de ser exigidas, em nome desse exemplo, em nome da ética, em nome da sobriedade.E que têm de ser exigidas no próximo OE.
1ª - Os subsídios mensais aos partidos (provindos dos impostos) deveriam reduzir para metade (partidos e grupos parlamentares a nível nacional e a nível regional);
2ª - Como medida política, indexada ao OE e para vigorar no futuro próximo, deve exigir-se a redução em 35% da classe política. Deputados, Ministros e Secretários de Estado, Assessores e Adjuntos (deve existir um tecto máximo de membros dos gabinetes), membros das Assembleias Municipais, Vereadores, Juntas de Freguesia;
3ª - Extinção imediata de Institutos Públicos (ou fusão quando a extinção for desajustada para o interesse público);
4ª - Indicação das rubricas a que se destinam as transferências do Estado para as Câmaras Municipais. Estamos a falar dos impostos dos portugueses que não podem, em nome da autonomia local, continuar a ser desperdiçados em Empresas Municipais e em gastos sumptuários de muitas vereações (pavilhões desportivos sem utilidade, campos de futebol, subsídios directos e indirectos a clubes...);
5ª - Igual medida em relação às Regiões Autónomas. A autonomia tem um preço, mas esse preço não tem de ser suportado pelos portugueses para manter benesses sem fim de uma classe que ao longo dos anos engordou à custa do emagrecimento colectivo;
6ª - Corte em 20% dos salários e ajudas de custo dos Administradores das Empresas Públicas e de todas as Instituições ligadas ao Estado (Hospitais, Entidades Reguladoras, Caixa Geral de Depósitos, Transportes...);
7ª - Exigência de igual corte por parte do accionista Estado (directa ou indirectamente), em relação às empresas em que participa. Exemplo da EDP. Não é admissível e choca a mais elementar sensatez que os Presidentes de certas companhias portuguesas ganhem mais do que ganham os Presidentes de companhias congéneres europeias;
8ª - Suspensão imediata das funções em Empresas ou organismos públicos, em lugares de administração ou assessoria, por parte de pessoas que estão reformadas pelo Estado;
9ª - Corte das avenças com escritórios de advogados (estamos a falar de milhões de euros), por parte das Empresas e Organismos Públicos que têm gabinetes jurídicos.
Eis o que o cidadão comum, da direita ou da esquerda, espera e exige. EXEMPLO, ÉTICA, SOBRIEDADE. E depois espera CREDIBILIDADE para avançar no sentido certo. E este Governo não a tem. Quem continua a acreditar e a dar crédito a um Governo desta índole ou é tonto ou simplesmente tem interesses ocultos.
Fazer sacrifícios implica acreditar naqueles que os pedem. E ninguém pode exigir o que quer que seja a nenhum português e a nenhum líder político da oposição, quando não se acredita.
Podemos dar as chaves de nossa casa a quem a assaltou? Este governo não merece continuar em funções e não pode continuar a ter o beneficio da dúvida.
(Com a devida vénia ao Blogue A Revolta - Um direito e um dever)
3 comentários:
Eu não tenho a veleidade de pensar que tenha um pensamento tão claro e acima de tudo tão ordenado como o autor. Mas mesmo assim, na mesma data escrevi o seguinte:
Desabafos
Mais uma vez, como se fosse a última, vieram-nos anunciar na semana que passou, mais austeridade de forma galopante, corte de salários na função pública, cortes de apoios sociais generalizados, aumento de impostos, idem, idem, aspas, aspas, etc., etc.
Mais uma vez, como se não houvesse antecedentes recentes que não se esquecem, como se não tivéssemos memória, vieram-nos anunciar que depois deste pacote não serão precisos mais cortes, como se tudo ficasse resolvido, como se fossemos cegos, surdos e mudos, como se não tivéssemos já visto este filme em várias reprises recentes.
Sabemos que a crise é grande, sabemos que a crise foi importada, sabemos que a crise domesticamente tem sido ampliada todos os dias, mas também sabemos que quando ela apertar mesmo a sério, quando deixarem de nos emprestar dinheiro para os bens essenciais desde os alimentos até à energia, quando nos fecharem as fronteiras, vai haver muito mais fome do que aquela que já por aí existe. E isso sendo péssimo, pode ser mesmo muito perigoso em todos os sentidos. Cuidado.
Venha o FMI ou não venha o FMI, mas tomem-se as medidas exemplares, que têm sido continuadamente adiadas, como por exemplo:
- Corte substancial no Orçamento da Presidência da República;
- Corte substancial no Orçamento da Assembleia da República;
- Corte substancial no Orçamento do Governo;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Governos Civis;
- Corte substancial no apoio aos partidos políticos;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Institutos, Autoridades, Entidades, Fundações, Empresas Públicas e outros sorvedouros de dinheiros públicos e empregadores da classe politica.
Quando estas medidas forem aplicadas, veremos menos carros grandes e pretos a circular sempre apressadamente como agora acontece todos os dias por todo o lado, saberemos que as viagens serão mais pensadas, saberemos que os banquetes serão reduzidos, e até, com estes exemplos, as Câmaras Municipais colaborarão de boa-vontade na redução dos seus orçamentos, e uma das formas a seguir pelas Autarquias, para que as situações gritantes não venham a sofrer cortes de apoios, será sem dúvida a redução dos eleitos a tempo inteiro, e seus séquitos, independentemente dos custos políticos que lhes possam vir a estar associados.
Mas em simultâneo, porque o país não pode parar e tem que ganhar um rumo orientado e responsável, têm que ser incentivadas as exportações que já se vão fazendo e continuar pelas pescas e agricultura, no sentido da fome poder ser sustida e criado emprego, mas também aumentadas as exportações de peixe, que podemos capturar em quantidade e qualidade, bem como de produtos hortícolas e frutícolas que podemos produzir também em quantidade e qualidade. Será preciso algum investimento, mas como é produtivo, que se faça já. É só aproveitar-se a nossa Zona Económica Exclusiva, a maior da Europa, e as potencialidades dum grande regadio à volta da maior barragem da Europa, Alqueva.
Só assim, com redução de despesas inúteis, mais ou menos supérfluas, e há tantas há tanto tempo, e aumento das exportações, é que se pode pensar em equilibrar a balança de pagamento e afastar as espadas que pendem sobre as cabeças de quem não tem culpa do estado a que isto chegou.
Não é necessário ser-se economista para se preconizar este tipo de medidas. Aliás foram esses senhores que alimentaram e fomentaram, com as suas engenharias financeiras, a crise do subprime que começou nos States e deu no que deu nesta aldeia global.
Se tem havido coragem para nos imporem tantos pacotes, qual deles o pior, há também que haver coragem para cortar onde se pode mesmo cortar, e incentivar a produção e a exportação do que é possível, enquanto é tempo.
Amanhã poderá ser tarde.
Carlos Pinheiro
03.10.10
Eu não tenho a veleidade de pensar que tenha um pensamento tão claro e acima de tudo tão ordenado como o autor. Mas mesmo assim, na mesma data escrevi o seguinte:
Desabafos
Mais uma vez, como se fosse a última, vieram-nos anunciar na semana que passou, mais austeridade de forma galopante, corte de salários na função pública, cortes de apoios sociais generalizados, aumento de impostos, idem, idem, aspas, aspas, etc., etc.
Mais uma vez, como se não houvesse antecedentes recentes que não se esquecem, como se não tivéssemos memória, vieram-nos anunciar que depois deste pacote não serão precisos mais cortes, como se tudo ficasse resolvido, como se fossemos cegos, surdos e mudos, como se não tivéssemos já visto este filme em várias reprises recentes.
Sabemos que a crise é grande, sabemos que a crise foi importada, sabemos que a crise domesticamente tem sido ampliada todos os dias, mas também sabemos que quando ela apertar mesmo a sério, quando deixarem de nos emprestar dinheiro para os bens essenciais desde os alimentos até à energia, quando nos fecharem as fronteiras, vai haver muito mais fome do que aquela que já por aí existe. E isso sendo péssimo, pode ser mesmo muito perigoso em todos os sentidos. Cuidado.
Venha o FMI ou não venha o FMI, mas tomem-se as medidas exemplares, que têm sido continuadamente adiadas, como por exemplo:
- Corte substancial no Orçamento da Presidência da República;
- Corte substancial no Orçamento da Assembleia da República;
- Corte substancial no Orçamento do Governo;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Governos Civis;
- Corte substancial no apoio aos partidos políticos;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Institutos, Autoridades, Entidades, Fundações, Empresas Públicas e outros sorvedouros de dinheiros públicos e empregadores da classe politica.
Quando estas medidas forem aplicadas, veremos menos carros grandes e pretos a circular sempre apressadamente como agora acontece todos os dias por todo o lado, saberemos que as viagens serão mais pensadas, saberemos que os banquetes serão reduzidos, e até, com estes exemplos, as Câmaras Municipais colaborarão de boa-vontade na redução dos seus orçamentos, e uma das formas a seguir pelas Autarquias, para que as situações gritantes não venham a sofrer cortes de apoios, será sem dúvida a redução dos eleitos a tempo inteiro, e seus séquitos, independentemente dos custos políticos que lhes possam vir a estar associados.
Mas em simultâneo, porque o país não pode parar e tem que ganhar um rumo orientado e responsável, têm que ser incentivadas as exportações que já se vão fazendo e continuar pelas pescas e agricultura, no sentido da fome poder ser sustida e criado emprego, mas também aumentadas as exportações de peixe, que podemos capturar em quantidade e qualidade, bem como de produtos hortícolas e frutícolas que podemos produzir também em quantidade e qualidade. Será preciso algum investimento, mas como é produtivo, que se faça já. É só aproveitar-se a nossa Zona Económica Exclusiva, a maior da Europa, e as potencialidades dum grande regadio à volta da maior barragem da Europa, Alqueva.
Só assim, com redução de despesas inúteis, mais ou menos supérfluas, e há tantas há tanto tempo, e aumento das exportações, é que se pode pensar em equilibrar a balança de pagamento e afastar as espadas que pendem sobre as cabeças de quem não tem culpa do estado a que isto chegou.
Não é necessário ser-se economista para se preconizar este tipo de medidas. Aliás foram esses senhores que alimentaram e fomentaram, com as suas engenharias financeiras, a crise do subprime que começou nos States e deu no que deu nesta aldeia global.
Se tem havido coragem para nos imporem tantos pacotes, qual deles o pior, há também que haver coragem para cortar onde se pode mesmo cortar, e incentivar a produção e a exportação do que é possível, enquanto é tempo.
Amanhã poderá ser tarde.
Carlos Pinheiro
03.10.10
Eu não tenho a veleidade de pensar que tenha um pensamento tão claro e acima de tudo tão ordenado como o autor. Mas mesmo assim, na mesma data escrevi o seguinte:
Desabafos
Mais uma vez, como se fosse a última, vieram-nos anunciar na semana que passou, mais austeridade de forma galopante, corte de salários na função pública, cortes de apoios sociais generalizados, aumento de impostos, idem, idem, aspas, aspas, etc., etc.
Mais uma vez, como se não houvesse antecedentes recentes que não se esquecem, como se não tivéssemos memória, vieram-nos anunciar que depois deste pacote não serão precisos mais cortes, como se tudo ficasse resolvido, como se fossemos cegos, surdos e mudos, como se não tivéssemos já visto este filme em várias reprises recentes.
Sabemos que a crise é grande, sabemos que a crise foi importada, sabemos que a crise domesticamente tem sido ampliada todos os dias, mas também sabemos que quando ela apertar mesmo a sério, quando deixarem de nos emprestar dinheiro para os bens essenciais desde os alimentos até à energia, quando nos fecharem as fronteiras, vai haver muito mais fome do que aquela que já por aí existe. E isso sendo péssimo, pode ser mesmo muito perigoso em todos os sentidos. Cuidado.
Venha o FMI ou não venha o FMI, mas tomem-se as medidas exemplares, que têm sido continuadamente adiadas, como por exemplo:
- Corte substancial no Orçamento da Presidência da República;
- Corte substancial no Orçamento da Assembleia da República;
- Corte substancial no Orçamento do Governo;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Governos Civis;
- Corte substancial no apoio aos partidos políticos;
- Corte substancial nos Orçamentos dos Institutos, Autoridades, Entidades, Fundações, Empresas Públicas e outros sorvedouros de dinheiros públicos e empregadores da classe politica.
Quando estas medidas forem aplicadas, veremos menos carros grandes e pretos a circular sempre apressadamente como agora acontece todos os dias por todo o lado, saberemos que as viagens serão mais pensadas, saberemos que os banquetes serão reduzidos, e até, com estes exemplos, as Câmaras Municipais colaborarão de boa-vontade na redução dos seus orçamentos, e uma das formas a seguir pelas Autarquias, para que as situações gritantes não venham a sofrer cortes de apoios, será sem dúvida a redução dos eleitos a tempo inteiro, e seus séquitos, independentemente dos custos políticos que lhes possam vir a estar associados.
Mas em simultâneo, porque o país não pode parar e tem que ganhar um rumo orientado e responsável, têm que ser incentivadas as exportações que já se vão fazendo e continuar pelas pescas e agricultura, no sentido da fome poder ser sustida e criado emprego, mas também aumentadas as exportações de peixe, que podemos capturar em quantidade e qualidade, bem como de produtos hortícolas e frutícolas que podemos produzir também em quantidade e qualidade. Será preciso algum investimento, mas como é produtivo, que se faça já. É só aproveitar-se a nossa Zona Económica Exclusiva, a maior da Europa, e as potencialidades dum grande regadio à volta da maior barragem da Europa, Alqueva.
Só assim, com redução de despesas inúteis, mais ou menos supérfluas, e há tantas há tanto tempo, e aumento das exportações, é que se pode pensar em equilibrar a balança de pagamento e afastar as espadas que pendem sobre as cabeças de quem não tem culpa do estado a que isto chegou.
Não é necessário ser-se economista para se preconizar este tipo de medidas. Aliás foram esses senhores que alimentaram e fomentaram, com as suas engenharias financeiras, a crise do subprime que começou nos States e deu no que deu nesta aldeia global.
Se tem havido coragem para nos imporem tantos pacotes, qual deles o pior, há também que haver coragem para cortar onde se pode mesmo cortar, e incentivar a produção e a exportação do que é possível, enquanto é tempo.
Amanhã poderá ser tarde.
Carlos Pinheiro
03.10.10
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