sábado, agosto 22, 2009

Entrevista com José Manuel Coelho












"O nosso sistema judicial é fascista"

Qual a principal razão da sua candidatura? Porque penso que vou ser eleito, porque os madeirenses já estão fartos de deputados cinzentões que, de quatro em quatro anos, aparecem a pedir o voto. Depois, nunca mais se sabe deles. Da Assembleia da República o que aparece são leis que vão prejudicar a vida dos portugueses. A Madeira tem uma quota de seis deputados e os amigos vão para lá e deixam os madeirenses atrás da porta.
Acredita que é possível ser eleito? Acredito. São precisos cerca de 12 mil votos e há muita desilusão e abstenção, sobretudo no grande Funchal. Há muitos jovens desiludidos com a política e que nem sequer votam. Conheço essas pessoas e vou dirigir-me a elas, porta-a-porta. É possível arranjar 12 mil votos.
Vai dirigir-se, sobretudo, aos jovens e abstencionistas? Sim, mas também a pessoas do PSD, que eu conheço, que estão desiludidas com isto. Há pequenos comerciantes que estão afogados em impostos. É preciso lembrar que a dra. Manuel Ferreira Leite esteve no governo de Durão Barroso e que, com o apoio dos deputados do PSD, fez aprovar aquela famigerada lei do pagamento especial por conta. Um imposto que vem asfixiar a maioria dos comerciantes.
Ao nível nacional, verifica-se uma grande bipolarização entre PS e PSD. Para si qual é o mal menor, Ferreira Leite ou José Sócrates? Ambos são políticos do sistema, são as duas faces da mesma moeda. O sistema capitalista tem dois partidos alternativos, o chamado centrão. Enganam os portugueses com a mesma cantiga e com a ajuda dos grandes meios de informação ligados ao grande capital e que vendem políticos como quem vende um sabonete.
A forma como é transmitida a mensagem do PND, através de acções espectaculares, como as classificou, resulta? Resulta, porque as imagens têm mais poder que as palavras. A nossa imagem de marca é através dessas acções e é assim que fazemos passar a nossa mensagem.
Admite fazer algo semelhante na Assembleia da República? Vamos combater o marasmo. Aquela Assembleia não serve os portugueses. A cada legislatura fazem uma nova malfeitoria para esmagar as pessoas. Até os jornalista do DIÁRIO foram vítimas de uma lei do Sócrates. A lei de 2006 permite que as empresas, com menos de 200 trabalhadores, façam despedimentos até um terço dos seus funcionários.
Levaria uma bandeira nazi e um relógio ao pescoço para a Assembleia da República? Naturalmente que na Assembleia da República não se coloca o mesmo problema antidemocrático da Assembleia da Madeira e era descabido levar para lá uma bandeira nazi. A ALM funciona de uma maneira fascista e só dão dois minutos para um deputado falar. Na AR é diferente.
Com esse tipo de acções ainda é possível alargar a base de apoio do PND? É possível, porque as pessoas começam a estar fartas dos dois grandes partidos.
Também não se podem cansar do PND? Não, porque a nossa mensagem é directa e interpreta os anseios das populações. Eu contesto o sistema e esta política de cinzentismo. O PSD e o PS elegem os deputados à Assembleia da República e esses senhores, assim que são eleitos, vão para lá comer, passar bem e ter um bom ordenado e os madeirenses são esquecidos.
Como analisa a acção dos outros partidos mais pequenos? Eles têm ambições de chegar à Assembleia, mas não chegam, porque não têm votos para isso. O discurso deles já está muito conhecido.
Em que é que o PND se distingue desses partidos mais pequenos? Somos corajosos, temos denunciado uma série de questões que os outros não têm coragem de denunciar.
Continua a defender os ideais comunistas? Sim, acredito que o Estado deve intervir na economia e deve haver uma organização científica da sociedade. O mercado não pode estar entregue a si próprio.
Mas o PND também é conotado com a direita. Não, sobretudo na Madeira, onde temos um grupo com pessoas de direita, do centro e da esquerda. Não temos matriz ideológica, somos um grupo de cidadãos que querem combater um sistema iníquo.
É devido a essa abrangência que o PND apoia, nas autárquicas, vários candidatos do PS. Qual a razão para não apoiar Bernardo Trindade? Como trabalhador, estou no desemprego devido a uma lei do Sócrates e não vou apoiar uma pessoa que luta contra a minha classe, que fez leis para me prejudicar? O PS é um partido burguês mas, ao nível autárquico, tem pessoas sérias. Bernardo Trindade representa a burguesia do PS. O professor João Carlos Gouveia é diferente, começou uma luta contra o regime jardinista e os tribunais que estão feitos com o regime, mas depois teve de se calar, porque estava num partido do sistema.
Tribunais que já o condenaram, em alguns processos de que tem sido alvo. Não teme que continuem a mover acções contra si? É a prova de que eu estou no caminho certo. Quando os tribunais deixarem de me perseguir é sinal que já me vendi ao capital. Como combato o sistema, caem em cima de mim. O sistema judicial português é fascista, herdado do fascismo e nunca teve transformações. O 25 de Abril chegou a várias instância de poder do Estado, menos ao aparelho de justiça. Antes do 25 de Abril havia o tribunal da Boa-Hora, onde os juízes julgavam pessoas que eram agredidas pela PIDE e o fascista do juiz não dizia nada.
Ainda há juízes desses a trabalhar? Foram reabilitados e alguns reformados com chorudas reformas. O sistema não expulsou essas pessoas indignas. Claro que não podemos meter tudo no mesmo saco, porque há juízes e delegados do Ministério Público que são pessoas sérias, mas a maioria são pessoas hostis a quem levanta os problemas.
Como interpreta as afirmações de Alberto João Jardim que diz que José Manuel Coelho é usado pelos 'meninos ricos' do PND? Nem tudo o que ele diz é verdade. Eu não sou mandado, dão-me algumas ideias, mas eu faço o que vai na minha consciência. Se o PND me impuser barreiras, como os partidos burgueses fazem, vou para outra luta.
b.i.José Manuel da Mata Coelho tem 56 anos, é pintor de construção civil, tem o 12º ano de escolaridade e encontra-se desempregado. O candidato do PND à Assembleia da República já foi militante do PCP e integrou a Direcção da Organização da RAM (DORAM). Em 1981, visitou a URSS, a convite do jornal 'Pravda'.Durante alguns meses, na actual legislatura, foi deputado na Assembleia Legislativa da Madeira.
Eleições anteriores2007 Regionais 2,08%.

(Com a devida vénia ao Diário de Notícias-Madeira)

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